segunda-feira, dezembro 18, 2006

INVERNO



INVERNO

Vestida está, de branco, toda a serra,
Prenúncio do Natal que se aproxima;
O vento, que nos sopra lá de cima,
É gelo que fustiga toda a terra.

O fumo que se escapa de repente,
Do topo duma ou outra chaminé,
Indica que a aldeia põe-se a pé,
- Desperta, como o dia, lentamente -.

Um galo, que ao romper da madrugada
Se esforça por saudar a alvorada,
Já canta no mais alto dos poleiros.

Em ciclo natural, que surge eterno,
Sucedem-se as chuvadas do Inverno,
Depois dos muitos dias soalheiros.



Vitor Cintra

" ECOS "

quinta-feira, dezembro 07, 2006

BUCÓLICO....poema de VITOR CINTRA



BUCÓLICO

Veio o sol! ... A madrugada
Recolheu-se, envergonhada
Do seu lento madrugar.
Pintalgada com magia
Surge a cor do novo dia,
Feita vida a despertar.

Passam corvos e os grasnidos,
Que nos chegam aos ouvidos,
São protestos de viúva;
Viuvez que a veste escura,
Simbolismo de amargura,
Acentua quando há chuva.

Cantam melros nos silvados,
Académicos alados
Do saber da Natureza;
Mesmo á beira dos caminhos
Há pardais, fazendo ninhos
Com afã, arte, beleza.

Corre Março, mas Abril
Vai chegar, com " águas mil "
E com campos verdejantes;
É a vida que acontece,
Toda ela feita prece,
Hoje e sempre, como dantes.


Do livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR"
(à venda nas livrarias)

terça-feira, novembro 21, 2006

DIVAGANDO






DIVAGANDO


Ao divagar vi um mundo
De amor, de paz e justiça
P’ra descobrir, num segundo,
Ganância, dor e preguiça.
E, divagando, pensei:
“ Será que o mundo tem lei? ”

Ao divagar vi verdade,
Razão, prudência, lisura,
P’ra descobrir falsidade,
Traição, inveja, amargura.
Só, divagando, se vem
Dizer que o mundo está bem.

Ao divagar vi grandeza
Nos actos, nos sentimentos,
P’ra descobrir a baixeza
Nos gestos e pensamentos.
Mas, divagando, se diz
Que o mundo vive feliz


Vitor Cintra

Do livro “ Alegorias”

segunda-feira, novembro 06, 2006

ARQUIPÉLAGO




Ilhas dos Açores,
Terra dos vulcões,
Meigas nos amores,
Loucas nas paixões.



Frei Gonçalo Velho
Fez o que podia,
Com bom senso e relho,
Por Santa Maria.





Se há em S.Miguel,
Pouca simpatia,
Só quem for cruel
Nega ver magia.




Ó ilha Terceira,
Chamam-te recreio,
Deixa! É brincadeira!
Nada tem de feio.




Diz-se do Faial,
Que quaisquer caminhos
Vão sempre, afinal,
Dar aos Capelinhos.




Pico, tão formosa
P'lo queijo e "verdelho",
Sentes-te ciosa
Desse saber velho.




Ilha das fajãs,
São Jorge dos queijos,
Gentes de almas sãs
São as que em ti vejo.




Ilha Graciosa,
Branca de apelido,
Dizes-te vaidosa.
Faz algum sentido.



Pelo bem que cheiras,
Pelas tuas cores,
Ilha das Caldeiras
Dizem que és "das Flores ".



Corvo, tão pequena,
Ergues-te à distância,
Mas neste poema,
Tens muita importância.



Vitor Cintra
"Alegorias "

sexta-feira, outubro 27, 2006

DESTINO






DESTINO


Eram estas e aquelas,
Umas feias, outras belas,
À conquista deste mundo;
Procurando o prazer delas
Não pensavam nas sequelas,
Nem paravam um segundo.

Ao chamar-lhe preconceito
- Que venceram, por dar jeito
Ao viver de libertinas, -
Desdenharam por despeito,
Dos princípios do respeito,
Que aprenderam em meninas.

Como gatas tendo o cio
Qualquer macho lhes serviu
Nessa saga de prazer;
Mas, do tempo que fugiu,
Restou só o leito frio
E tristeza a condizer.

Já perdidos os encantos,
Sós no mundo, com seus prantos,
Olhar triste, sempre errante,
Lembram homens – foram tantos,
Possuídos pelos cantos, -
Doutro tempo, já distante.



Vitor Cintra


Do livro " Alegorias "

quarta-feira, outubro 18, 2006

ORFÃO


(Foto de Marília Gomes)


ORFÃO


Mora na rua deserta,
Sem encontrar porta aberta
Que lhe dispense um carinho;
Há, nessa alma carente,
Temor de toda essa gente
Com quem cruzou o caminho.

Quando morreu sua avó
Ficou mais orfão, mais só,
Dos pais, lembranças nem tem;
Do mundo todo é vizinho,
Mas continua sozinho
Sem ter cuidados de alguém.

Nesse desprezo da sina
Somente a vida lhe ensina
Quanto a " Fortuna " é madrasta;
Pois, apesar de criança,
Deixou ficar toda esp'rança
Na meninice já gasta.




Vitor Cintra


Do livro "Alegorias"

quarta-feira, outubro 11, 2006

ESPIGA........VITOR CINTRA




Nos campos de trigos,
Papoilas e trevos,
Há ninhos, abrigos,
Abraços, enlevos,
Orgasmos, gemidos,
Carícias, segredos
Na voz dos sentidos,
Frementes e ledos.



Vitor Cintra

Do Livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR "
(À venda nas Livrarias)

segunda-feira, outubro 02, 2006

FONTE








FONTE


A fonte da minha aldeia
Murmura, mas docemente.
E tudo quanto a rodeia
Provoca em nós a ideia
Que canta por 'star contente.

Nas noites de lua cheia
Co'a gente lá reunida,
A noite não se receia,
O povo só cavaqueia.
A fonte ganha mais vida.

Se as tardes são de domingo,
A fonte vai murmurando
Ás moças, que vão surgindo.
Rapazes chegam, sorrindo;
Namoros vão despontando.

É certo que tem a fonte
Valor imenso p'ra nós;
Além da água do monte
Transporta do horizonte
Desejos de estarmos sós.



Vitor Cintra

"Alegorias"

domingo, setembro 24, 2006

POETA




POETA



Ser poeta ... é delirar,
Delirar alegre, ou triste ;
Fazer versos é sonhar
Co'aquilo que não existe.


Ser poeta ... é esquecer,
Da vida, a realidade,
É, num abraço, abranger
O mundo e a eternidade.


Ser poeta, realmente,
É viver da ilusão
Nas horas de solidão;


É escrever o que se sente
Dando asas, livremente,
Á nossa imaginação.


Vitor Cintra


Do livro " DISPERSOS "

quarta-feira, setembro 13, 2006

SOCONE




SOCONE



Vejo, da minha janela,
Este mar verde, de chá,
Como paisagem é bela,
Embora sinta que nela
Mais nostalgia me dá.


Corre, sem pressas, o tempo,
Numa maior fantasia;
Este correr, de tão lento,
Traz-nos um bom sentimento,
De muita paz, cada dia.


Quem, por sentir-se poeta,
Sonha viver vida assim,
Sem precisar ser asceta
Pode atingir essa meta,
Neste mar verde, sem fim.



Vitor Cintra



Do livro " Memórias "

domingo, setembro 03, 2006

MEDOS....poema de VITOR CINTRA




MEDOS



Perdido, confuso,
Tornei-me um intruso
Na vida que é minha,
Sem ver, nos meus actos,
Quaisquer desacatos
De força maninha.


Receio este medo,
- Tornado segredo
No curso dos anos -
Pois vem do passado,
Embora marcado
Por muitos enganos.


Tirei do trabalho
Aquilo que valho,
Vencendo receios;
Até que, cansado,
Senti ser tocado
Por medos alheios.


Mudei de caminho,
Fugindo, sózinho,
De muitos, ou poucos;
Receios, tormentos,
Impulsos, alentos,
Num mundo de loucos.



Vitor Cintra


Do livro "PEDAÇOS DO MEU SENTIR"

( à venda nas livrarias)

domingo, agosto 27, 2006

OBSESSÃO







OBSESSÃO



Pedisse o mundo inteiro eu lho daria,
Por muito que isso fosse inconsciente;
Em nós era tão grande a empatia
Que nem pensar podia ser dif'rente.


Vivendo em dependência doentia,
Aquela paixão louca, permanente,
Sem ver, à nossa volta, se existia
Qualquer razão de vida mais premente...


Sorvido, num delírio, cada dia,
O mundo do futuro era o presente,
Sem ver, no amanhã, mais garantia


Que a chama intensa desse amor ardente,
Que até se consumar nos consumia
O corpo e alma, a vida, a própria mente.


Vitor Cintra


Do livro " Ao Acaso "

terça-feira, agosto 22, 2006

DISTANTES









DISTANTES



Com penas,
é certo,
nem sempre pequenas,
Cruzámos a vida a par;
Nem perto,
nem longe,
Distantes, apenas.
Com vidas de monge.

Tentámos manter um lar.



Vitor Cintra


Do livro " Momentos "

segunda-feira, agosto 14, 2006

RETROSPECTIVA








RETROSPECTIVA



Cansado da vida,
Perdido no tempo,
A alma rendida,
Sem encantamento;
A força perdida
Por esgotamento,
A mente vencida
Pelo sofrimento.
Saudade chorada
Co'a voz embargada,
A sorte jogada
Num mundo sem nada.
Nos anos passados,
Sem eira nem beira,
Os dias marcados
Por muita cegueira;
Os tempos trocados
Por ventos de feira;
Destinos cruzados
De qualquer maneira.
Refeito o caminho,
Seguido sózinho,
Recorda-se o ninho
Com muito carinho.
Rescaldos de dor
Das mágoas sofridas;
Afagos de amor
Das paixões vividas;
Amargo sabor
Das horas perdidas;
Restando o fervor
Das preces sentidas ...




Vitor Cintra


do livro " ECOS "

terça-feira, agosto 08, 2006

AS MANCHAS





AS MANCHAS



As manchas, no mar, são sombras,
Que as nuvens deixam cair.
Sereias fazem as ondas,
Tentando delas fugir.
E nesse cavar de lombas,
Que descem, mas vão subir,
A espuma torna-se em pombas,
Que voam, mas sem partir.


Vitor Cintra


Do Livro " Momentos "

terça-feira, agosto 01, 2006

SONHO....pema de VITOR CINTRA



SONHO

Chegaste ...
de repente e sem aviso !
O delírio, num sorriso,
chamando.
Corpo e alma e tudo em mim
vibrando,
no vislumbre do ensejo,
numa ânsia, num desejo,
de ti.
Ilusão que me sorri!
Contraste
doutros dias, maus, sem fim.



Vitor Cintra

do livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR "
(à venda nas livrarias)

sexta-feira, julho 28, 2006

QUEIXA


(Fotografia de Joel Calheiros)




QUEIXA



O silêncio que transpira
Deste amor, que tudo afronta,
É razão que sempre inspira
A labor de maior monta.


Porque, mais dissimulado
Que o silêncio do desejo,
É saber ficar calado
E fingir que nada vejo.


Se, senhora, do pecado,
Que me deixa tão chocado,
É prazer que desejais,


Um trabalho tão forçado
Por vos ter um dia olhado,
É castigo mau demais.


Vitor Cintra

Do livro " Divagando "

sábado, julho 22, 2006

AMAR........VITOR CINTRA



AMAR

Amar é estar em nova estada,
É sim, é não, é tudo, é nada;
É vir, partir, recomeçar,
É rir, chorar, é recordar.

É sol, é chuva, é dar sem ter,
É bom, é mau, razão de ser,
É paz, é guerra, é ilusão,
É doce amargo, dom, paixão.

É céu, é terra, é mar, é vento,
É luz, calor, deslumbramento,
É força, é dor, é uma miragem.

É vida e morte, é renascer,
É querer, sem crer e sem descrer,
É fé, é culto de uma imagem.


Vitor Cintra

Do livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR"

(à venda nas Livrarias)

domingo, julho 16, 2006

FRONTEIRAS






FRONTEIRAS



Nas fronteiras do amor
Há sempre uma zona escura
Que, sem chegar a ser dor,
Nunca chega a ser doçura.


O coração a bater
- Desespero desmedido -
Uma ânsia de viver,
Um desejo mal contido.


Esp'rança no que não vem,
Na certeza que há-de vir
Fazer a vida sorrir,


Sem receio de que alguém
Possa surgir, num momento,
E quebrar o encantamento.


Vitor Cintra


Do livro " Ao Acaso "

terça-feira, julho 11, 2006

CERTEZA




CERTEZA



Chegou o momento
De te recordar,
Cabelos ao vento,
A luz no olhar,
Sorriso de alento
E seios de altar,
Andar de tormento,
Desejo de amar.


Com toda a candura,
Sonhando ternura;
Esbelta figura;
Beleza madura.


Nenhum pensamento,
Me vai dominar,
Além do intento
De te conquistar.
Se algum sofrimento
Me pode marcar
É só por ver lento
O teu regressar.



Vitor Cintra

Do livro " Memórias "

quinta-feira, julho 06, 2006

SEM AMARRAS





SEM AMARRAS



Quem 'screve poesia por prazer,
Sem ter celebridade como meta,
Embora sem um nome a defender
Não deixa, mesmo assim, de ser poeta.


Sei bem que pouco sou e não mereço
Memórias, nesse tempo do futuro;
Mas não serei refém do alto preço
Que paga quem arrisca, " sem seguro ".


Nasci de gente humilde, mas honrada.
Só tendo o meu bom nome como herança
Cruzei a vida, cara levantada.


Não vou, para ver obra publicada,
Deixar, neste meu nome, má lembrança
De ter, em vida, fama bajulada.


Vitor Cintra


Do livro " Dispersos "

sábado, julho 01, 2006

COMPANHEIRA





COMPANHEIRA



Quando o sol beijou a lua,
Num seráfico jardim,
Minh'alma chamou a tua
E o amor nasceu assim.

Eram tempos de ternura
Onde sonhos irreais,
Num enlevo de candura
Se mostravam tão reais.


Mas o tempo, de tão lesto
Ao passar, deixou atrás
Coisas boas, outras más.


Num sonhar bem mais modesto
Transformou tudo, num gesto,
Mas também nos trouxe a paz ...



Vitor Cintra


Do livro " RELANCES "

terça-feira, junho 27, 2006

DEDICAÇÃO....poema de VITOR CINTRA



DEDICAÇÃO

Pediste que te abrisse o coração,
Até que desvendasse alguns segredos,
Mas ao contar-te a vida e seus enredos,
Deixei-me dominar p'la emoção.

Falei-te de vivências do passado,
De mágoas, alegrias, dissabores,
Falei-te até de causas e valores,
E vi-me a revivê-los a teu lado.

E foi ao mergulhar em outras eras,
Que fiz extravasar os sentimentos,
Angústia e despertar de sofrimentos;

Comigo estavas tu, como quiseras,
Tentando descobrir esse meu mundo,
Num gesto, sem igual, de amor profundo.


Vitor Cintra


Do livro "PEDAÇOS DO MEU SENTIR "
( à venda nas livrarias)

sexta-feira, junho 23, 2006

TU ÉS ... VITOR CINTRA




TU ÉS

A nuvem que passa no céu do meu sonho,
O vento que sopra a seara do amor,
O fogo que queima as entranhas da dor,
A chuva que lava o meu mundo bisonho.

Tu és
O sol que, num mito, me aquece o prazer,
A noite estrelada que me há-de sorrir,
A vida que surge no campo a florir,
A esp'rança que faz o meu corpo tremer.

Tu és,
Na ânsia fremente, que invade a minha alma,
A paz que se sente, que envolve, que acalma.



Vitor Cintra


Do livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR"
(À venda nas livrarias)

quarta-feira, junho 21, 2006

AMANHECER





AMANHECER


Além, na madrugada que desponta,
Um galo desafia, no cantar,
O dia, que se atrasa a despertar
Dum sono sem cuidado, nem afronta.


A lua, confidente dos amantes,
Com brilho mais intenso que as estrelas,
Entrando, descarada p'las janelas,
Partilha das carícias ofegantes.


Ao longe soam toques de matinas,
Ouvidos nas encostas e ravinas;
Ruídos doutro dia que começa.


Com ninhos construídos nos beirais,
Cuidando da penugem, os pardais,
Esperam, chilreando, que amanheça.



Vitor Cintra


Do livro " Memórias "

segunda-feira, junho 19, 2006

DEVAGAR





DEVAGAR


Ao trilhar um bom caminho
Duas formas há de andar,
É faze-lo devagar
Ou, então, devagarinho.

Não será dogma de monge,
Nem sequer um dito novo,
Mas, lá diz a voz do povo:
" devagar se vai ao longe !"


A verdade que se encerra,
Neste dito popular,
Sei-a eu e também tu.


Quanta gente, boa, erra
Não andando devagar?!...
" Quem tem pressa come cru!"


Vitor Cintra


Do livro " RELANCES "

sexta-feira, junho 16, 2006

POENTE




POENTE


A tarde finda,
Num pôr-de-sol
Que brilha ainda.
A alma,
Onde a saudade impera,
Desespera.
Presente,
Um rol
De marcas e sinais,
Dos quais,
A nostalgia
Se evidencia,
Se sente.
Na tarde calma,
Enquanto o sol se perde
Num mar, que ferve,
Avermelhando o céu,
Aumenta a dor
Do amor.
Que se perdeu.



Vitor Cintra


do livro " Contrastes "

terça-feira, junho 13, 2006

SENSUALIDADE.....VITOR CINTRA





SENSUALIDADE


Caiu a noite! E o marulhar das ondas,
Embala em sonhos um amor distante,
Que tu desejas, com ardor e ânsia;
Mas nesse arquejo da paixão, que rondas,
Nem o negrume da saudade errante
Encurta o tempo, longo, da distância.


Sentindo o sonho vir, tornado alento,
Enfeitiçar-te, num desejo atroz,
Agigantado nesse marulhar,
Transpões a noite, pondo o pensamento
Na fantasia, de avidez feroz,
Dum outro amante, que te saiba amar.


Vitor Cintra


Do livro " Pedaços do Meu Sentir "

( à venda nas livrarias)

sábado, junho 10, 2006

SEIOS...poema de VITOR CINTRA




SEIOS

Seios pequenos, discretos,
Seios rebeldes, erectos,
Feitos desejos secretos.


Seios redondos e quentes,
Seios desnudos, frementes,
Colos d'amor, exigentes.


Seios luxúria, vibrantes,
Seios gulosos, de amantes,
Dons de paixões escaldantes.


Seios crescidos, maduros,
Seios pujantes, seguros,
Sons de silêncios impuros.


Seios enormes, caídos,
Seios vazios erguidos,
Resto de tempos vividos.



Vitor Cintra


Do livro "PEDAÇOS DO MEU SENTIR"
(à venda nas livrarias)

quinta-feira, junho 08, 2006

CONTRADITÓRIA



CONTRADITÓRIO


São nossas as intenções
De ter um mundo melhor,
Mas vós sabeis as razões
Que o fazem ficar pior.


É nosso o desejo ardente
De ver o mundo feliz,
Mas vosso é o que não sente
Paixão p'lo que a gente diz.


São nossas as tradições
De dar por solidariedade,
Vós tendes motivações
Que o fazem, mas por vaidade.


É nosso o sentir urgente
Que chegue o fim da pobreza,
Mas vosso é o que desmente
Não ter apego à riqueza.


Vitor Cintra



Do livro " Vertigem "

terça-feira, junho 06, 2006

FRÉMITO







FRÉMITO



Senti teu corpo abrir-se de desejo
No sôfrego trocar de longo beijo,
Fremendo em gesto impúdico de posse,
Disposto a consumá-la, se assim fosse.


O meu, dando resposta ao desafio,
Que o teu, nesse fremir, lhe transmitiu,
Tomou o teu desejo por promessa
E uniu-se a esse frémito, com pressa.


Sem ter em conta os anos decorridos
P'ra lá, do que se diz, ser mocidade,
Entrados já, os dois, na meia idade,


Em louca cavalgado dos sentidos,
Soltámos as amarras do prazer,
Deixando tudo o resto acontecer.


Vitor Cintra



Do livro " Contrastes "

domingo, junho 04, 2006

INDECISÕES........VITOR CINTRA





INDECISÕES


Quando o amor te convida
Finges mistérios,
Segredos
E medos;
Se te conquista em seguida,
Sonhas impérios,
E ledos
Enredos;
Mas, na paixão conseguida,
Vês adultérios,
Bruxedos,
Degredos.



Vitor Cintra

do livro "Pedaços do Meu Sentir"
(à venda nas livrarias)

sexta-feira, junho 02, 2006

REMORSO





REMORSO



Tolhido por certezas indiscretas,
Julgadas enterradas noutro tempo,
Ouviu, num doloroso pensamento,
Palavras sem sentido, mas directas.


Distantes, mas tão perto da lembrança,
Causando indisfarcável sofrimento,
Surgiam, na memória do momento,
Fantasmas, revividos por herança.


Na alma, despertando envergonhada,
Ardiam, como brasas, lentamente,
Os gritos duma angústia permanente.


Por vezes, ecoando quase nada,
Surgiam, só a medo, docemente,
Sintomas de quem vive alegremente.


Vitor Cintra


Do livro "ECOS"

quarta-feira, maio 31, 2006

PENSO EM TI






PENSO EM TI



Penso em ti a toda a hora
Numa ânsia permanente.
Muitas vezes noite fora,
Outras tantas como agora,
Penso em ti, constantemente.


Penso em ti, no teu sorriso,
Que me toca docemente.
Quantas vezes não preciso
Sentir só que o meu juizo
Não se perde de repente.


Penso em ti porque, encantado,
Te desejo ardentemente.
Coração acelerado,
Imagino-te a meu lado,
Bem real, na minha mente.



Vitor Cintra


Do livro " Momentos "

terça-feira, maio 30, 2006

DÓI






DÓI



Quero-te tanto que dói!
Mas, nesta dor miudinha,
Profunda, doce, daninha,
Há um encanto d'esperança.
Nela tu és, por lembrança
Dos tempos da mocidade,
O mito da f'licidade,
Que o meu desejo constrói.


Por cada mulher que vejo.
Sinto ternura e desejo.
E todas as que conheço
Acho bonitas, confesso.
Mas sinto, porque te quero,
A dor do meu desespero.


Aquelas, com quem cruzei,
Só possuí, nunca usei.
Não fiz batota com elas,
Nem fiz promessas balelas,
Dei, nessas posses, carinho.

Não quis vivê-las sózinho.


Mas esta dor, que corrói
A mente, como a vontade,
Resulta da intensidade
Do teu fascínio. Enquanto
Minha alma cede ao encanto,
Meu corpo grita bem alto,
Sentidos em sobressalto:
Quero-te tanto que dói !


Vitor Cintra


Do livro " Contrastes "

segunda-feira, maio 29, 2006

MÃOS.....VITOR CINTRA



MÃOS

São grandes, pequenas,
Nervosas, serenas,
As mãos que se agitam,
Repousam, meditam.
Transportam magia,
Tristeza, alegria,
Por isso há encanto
Nas mãos que dão tanto.

As mãos que nos calam
Com mimos que embalam,
Trazendo segredos
Nas pontas dos dedos,
São mãos que fascinam,
Ao toque, dominam,
E em cada carícia
Despertam malícia.

São mãos que tateiam
E o corpo incendeiam,
Soltando o desejo
Gerado num beijo.
E a cada momento
Transmitem alento,
Com gestos singelos,
Marcantes, mas belos.


Vitor Cintra


Do livro "PEDAÇOS DO MEU SENTIR"
(à venda nas livrarias)



domingo, maio 28, 2006

OUTEIRO







OUTEIRO



Deste outeiro, onde me isolo,
Vejo o céu, o mar, o mundo,
Vivo mágoas sem consolo,
Sonho abraços, beijos, colo,
No silêncio mais profundo .


Leio o tempo - que se escoa -
Nas estrelas a brilhar.
Numa ânsia, que magoa,
Sonho tanta coisa boa,
Que me causa medo amar.



Vitor Cintra


do Livro " Vertigem "

quinta-feira, maio 25, 2006

AMARGA..........VITOR CINTRA


AMARGA

Amarga é a manhã da despedida,
Depois que pernoitámos o amor;
Até porque a minha alma, embevecida,
Acende-me, no corpo, o teu calor.

Vulcão de sentimentos, quando a vida
Apenas me deixava colher dor,
Soltando fui amarras, de seguida,
Depois que tu chegaste, sem fragor.

E os dias feitos horas, à medida
Que em ti encontrei paz. E o vigor
Do corpo, natureza reprimida,

Desperto, sem receios, nem pudor,
Unindo-se, com ânsia mal contida,
Ao teu, rendido em êxtase maior.



Vitor Cintra


Do livro "PEDAÇOS DO MEU SENTIR"

(à vendas nas livrarias)

segunda-feira, maio 22, 2006

SENTIMENTOS





SENTIMENTOS



Vindos do fundo dos tempos,
Por caminhos sempre estranhos,
Chegam-nos os sentimentos
Que, por vezes, são tamanhos.


Uns são bons, ás vezes tanto
Que nos causam mesmo medo;
Muitos provocam o pranto,
Outros exigem segredo.


Sempre que um deles desponta,
Em momento inesperado,
Deixa alguém angustiado;

É que, mesmo sem dar conta,
Quem por ele é atingido
Fica até surpreendido.


Vitor Cintra

Do livro " ECOS "

sábado, maio 20, 2006

CONDIMENTOS





CONDIMENTOS


Amar é ter da alma uma visão
Que leva a crer que, sem o ente amado,
Não há, no mundo inteiro, uma razão
Capaz de nos levar a qualquer lado.


Mas crer que não existe, um só, defeito
No ser que é objecto desse amor,
Sabendo que não há ninguém perfeito,
É mera presunção de ter melhor.


Negar que em todos nós há bem e mal,
Não é amar de modo natural,
É ver o amor de forma distorcida.


Varinha de condão dos sentimentos
Os erros, no amor, são condimentos
Que apuram o sabor da própria vida.




Vitor Cintra

do livro " Vertigem "

quinta-feira, maio 18, 2006

FOSTE


FOSTE


Tu foste o sonho e o dom,
A vida que há p'ra viver,
Ideia de amanhecer,
Promessa do muito bom.

Tu foste essa voz, ao longe,
Que ecoa no oceano,
Trazendo calor humano
à vida, quase de monge.


Tu foste a água da fonte,
Que fez pensar na promessa,
Que a vida se recomeça;

Tu foste o cume do monte
Aonde, feita a escalada,
Se encontra a mulher amada.



Vitor Cintra

do livro " Vertigem"