sábado, novembro 27, 2010

MINHA ALMA

Minha alma, tu que arrastas, num calvário,
Os sonhos que, na vida, não cumpri,
Preserva todo o meu imaginário,
Em versos segredados, junto a ti.
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E deixa que, no tempo, só as dores
Se esvaiam da memória e, aí,
Só restem as lembranças dos amores
Dilectos, de que outrora me perdi.
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Se o tempo de tentar outra vivência
Deixar que nunca a voz da consciência
Me fale, porque a vida me sorri,
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Permite-me, minha alma, renascer,
Perder-me então de amor e, sem temer,
Viver essa paixão que não vivi.
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Vítor Cintra
Do livro: FRAGMENTOS

terça-feira, novembro 23, 2010

DEUSA

Deleita-se Afrodite em sono breve,
Depois de saciada em seus amores;
No corpo, abandonado sobre flores,
Carícias duma brisa muito leve.
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Adónis, que partiu após o coito,
Tomado do maior encantamento,
Deixou-a ficar só, no firmamento,
Brilhando sobre a praia do Magoito.
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Se «Roma», que de Vénus a chamou,
A viu, depois, brilhar de madrugada,
Estrela, numa noite enluarada,
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Frustrada no amor, que lhe roubou
A deusa, que diogo possuía,
Em pranto se quedou, até ser dia.
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Vítor Cintra
Do livro: ECOS

sexta-feira, novembro 19, 2010

SENTI

São tuas
as mãos que acariciam a dor,
deslizam no corpo,
acendem calor;
São teus
os sorrisos que deixam sabor
de paz e conforto,
que geram vigor.
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E teus
são os sonhos, que aquecem a alma
e fazem o tempo
parar num momento;
E tuas
as tardes que despertam a calma
E um sopro de alento
No meu eu, sedento
de ti
e do que senti
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Vítor Cintra
Do livro: ANALOGIAS

segunda-feira, novembro 15, 2010

UM SINAL

Existe em ti um sinal
Que não tem noutra rival.
Quando tu passas na rua,
Um balançar sensual,
Que se vê ser natural,
Tem uma marca só tua.
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A cada passo escorreito
Os seios tremem, dum jeito
que, neles, prende o olhar;
E o corpo cheio, bem feito,
Provoca sempre um efeito,
Que é belo, no teu andar.
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Cabelos soltos, ao vento,
Acabam sendo tormento
P'ra quem te vê, a passar,
Mas vem de ti um alento
Que, mesmo sem 'star atento,
Se nota. Fica no ar.
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Vítor Cintra
Do livro: FRAGMENTOS

domingo, novembro 07, 2010

TEU NOME

Teu nome e o meu amor de adolescente
Gravei, no coração, com ferro em brasa;
E nele, como que na própria casa,
Irão permanecer eternamente.
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Unidos, por um laço permanente,
Teu nome e este amor estão ligados;
Mas foram, pela vida, separados
Sem ver-se uma razão, mesmo aparente.
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E na separação que, de repente,
A vida decretou, por agonia,
Teu nome, repetido cada dia,
.
Foi chama deste amor, amargamente
Cstrado do encanto e alegria,
Que só na comunhão se alcançaria.
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Vítor Cintra
Do livro: FRAGMENTOS