quarta-feira, setembro 28, 2011

PEQUENEZ

(Imagem recolhida na internet)
.
Não são, nem nunca foram, importantes
As causas que tu dizes cruciais,
Mesquinhas sim, até deselegantes,

Mas isso só, apenas, nada mais.
.
Os dramas, esses dramas pequeninos,
Porque alguém diz que disse, ou porque fez,

São nada, nem sequer são genuínos,
Nem valem que se diga «era uma vez...»
.
Se toda a tua vida for só isso,
Lamenta a erosão do teu viver
E trata de arranjar o que fazer.
.
O tempo leva modas e feitiço,
Mas nunca levará a mesquinhez
De quem a não sacode de uma vez.
.
Vítor Cintra
Do livro: PASSAGENS

sábado, setembro 24, 2011

DESESPERO

(Imagem recolhida na internet)
.
Num certo dia, bem cedo,
Quando se ergueu, manhãzinha,

Viu-se a criança sozinha,
Abriu-se a porta do medo.
.
No rosto lágrimas, dor,
Chamando com desespero:
«Mãezinha!... Mãe, eu te quero!...
Mãe, onde estás?... Por favor...»
.
Num choro tão soluçado,
O coração, apertado,
Cativo desse abandono,
.
Foi, num passito apressado,
Perder-se num mundo errado,
Medrosa do próprio sono.
.
Vítor Cintra
Do livro: FRAGMENTOS

terça-feira, setembro 20, 2011

VELHICE

(imagem recolhida na internet)

.

Vendo passar o teu tempo

Sabes que a vida se escoa.

Sentes no peito um lamento,

Marcas de dor que magoa.

.

Náufrago duma saudade,

Noiva do tempo lembrado,

Dobres no sino da idade

Tornam presente o passado.

.

Vives das tuas memórias,

Olhas o mundo à distância,

Voltas ao tempo de infância.

.

Mágoas e muitas histórias,

Perdem-se no teu caminho,

Velho, que vives sozinho.

.

Vítor Cintra

Do livro: ENTRE O LONGE E O DISTANTE

sexta-feira, setembro 16, 2011

DESENGANO

(imagem recolhida na internet)
.

Vivendo só de sonhos se perdeu
A força que, trazida por Perseu,
Chegou, um dia, à terra lusitana;

E, sem pensar que a sorte era madrasta,
Julgando que Fortuna não se gasta
Agimos da maneira mais insana.
.
O Pégaso, que Ulisses cavalgou,
Que o mar em caravela transformou,
Connosco a percorrer os oceanos,
Deixou-nos, indo em busca de outro deus,
Dispondo-se a servir somente Zeus,
Ao ver que apenas éramos humanos.
.
Vítor Cintra
Do livro: ENTRE O LONGE E O DISTANTE

terça-feira, setembro 13, 2011

PAIXÕES

(imagem recolhida na internet)
.
As mãos que acariciam o teu rosto
E moldam, com ternura, lentamente,
As formas dos teus seios e do ventre,
Acendem-te no corpo um fogo, posto
Em ondas de paixão, que se agigantam.
.
Na ânsia que domina os teus sentidos
E alastra, como fogo, nas entranhas,
Elevas-te mais alto que as montanhas,
Até que te derramas, em gemidos,
Às mãos que te arrebatam e encantam.
.
Vítor Cintra
Do livro: AFAGOS

sexta-feira, setembro 09, 2011

REVIVER

(Imagem recolhida na internet)
.
Embarga-se-te a voz, de comoção,
Os olhos, marejados, mostram dor,
E todo o teu "viver um grande amor"
Se vai, dentro das tábuas dum caixão.
.
Ceifou-te a morte, a vida por viver,
A alma, que se apaga em solidão
E, por despojos, deixa a sensação
De que nada mais resta do teu ser.
.
Mas há sempre, amanhã, um sol que nasce,
Ainda que de negro, hoje, se vista
O céu, no horizonte que se avista.
.
E, nesse renascer, o homem faz-se
De novas esperanças, em que a vida
Reclama o seu direito a ser vivida.
.
Vítor Cintra
Do livro: FRAGMENTOS


segunda-feira, setembro 05, 2011

NOTÍCIA

(imagem recolhida na internet)
.
Andou de mão em mão, de boca em boca,
Correndo o mundo inteiro, coisa louca,
Jornais, televisões, num diz que disse,
Até que ninguém mais o repetisse.
.
Surgiu e fez furor, gerou intrigas,
Cresceu, foi novidade entre as amigas,
Valeu untervenções politiqueiras,
Governo, oposição, tecendo asneiras.
.
Depois de muito brado e muita tinta
Chegou, por fim, o tempo de morrer
Por nada mais haver para dizer.
.
E embora muita gente ainda sinta
Que muito se falou só por malícia,
Diana já deixou de ser notícia.
.
Vítor Cintra
Do livro: AFAGOS

sexta-feira, setembro 02, 2011

HOJE

(imagem recolhida na internet)
.
Hoje,
Que o pulsar do coração
Pintalgou de ternura
O sonho da esperança,
- Ilusão de poetas -
Sorrio!
.
Hoje,
Que o silêncio das almas
Cavalgou a superfície
Deste mar agitado,
Que é dor de poetas,
Estou só!
.
Hoje,
Que o fragor das ânsias

Arrebatou as ideias
Rasgando saberes
E o sentir de poetas
Perco-me!

.
Hoje,
sorrio,

porque estou só,
mas perco-me!
.
Vítor Cintra
Do livro: ENTRE O LONGE E O DISTANTE