sexta-feira, outubro 27, 2006

DESTINO






DESTINO


Eram estas e aquelas,
Umas feias, outras belas,
À conquista deste mundo;
Procurando o prazer delas
Não pensavam nas sequelas,
Nem paravam um segundo.

Ao chamar-lhe preconceito
- Que venceram, por dar jeito
Ao viver de libertinas, -
Desdenharam por despeito,
Dos princípios do respeito,
Que aprenderam em meninas.

Como gatas tendo o cio
Qualquer macho lhes serviu
Nessa saga de prazer;
Mas, do tempo que fugiu,
Restou só o leito frio
E tristeza a condizer.

Já perdidos os encantos,
Sós no mundo, com seus prantos,
Olhar triste, sempre errante,
Lembram homens – foram tantos,
Possuídos pelos cantos, -
Doutro tempo, já distante.



Vitor Cintra


Do livro " Alegorias "

quarta-feira, outubro 18, 2006

ORFÃO


(Foto de Marília Gomes)


ORFÃO


Mora na rua deserta,
Sem encontrar porta aberta
Que lhe dispense um carinho;
Há, nessa alma carente,
Temor de toda essa gente
Com quem cruzou o caminho.

Quando morreu sua avó
Ficou mais orfão, mais só,
Dos pais, lembranças nem tem;
Do mundo todo é vizinho,
Mas continua sozinho
Sem ter cuidados de alguém.

Nesse desprezo da sina
Somente a vida lhe ensina
Quanto a " Fortuna " é madrasta;
Pois, apesar de criança,
Deixou ficar toda esp'rança
Na meninice já gasta.




Vitor Cintra


Do livro "Alegorias"

quarta-feira, outubro 11, 2006

ESPIGA........VITOR CINTRA




Nos campos de trigos,
Papoilas e trevos,
Há ninhos, abrigos,
Abraços, enlevos,
Orgasmos, gemidos,
Carícias, segredos
Na voz dos sentidos,
Frementes e ledos.



Vitor Cintra

Do Livro " PEDAÇOS DO MEU SENTIR "
(À venda nas Livrarias)

segunda-feira, outubro 02, 2006

FONTE








FONTE


A fonte da minha aldeia
Murmura, mas docemente.
E tudo quanto a rodeia
Provoca em nós a ideia
Que canta por 'star contente.

Nas noites de lua cheia
Co'a gente lá reunida,
A noite não se receia,
O povo só cavaqueia.
A fonte ganha mais vida.

Se as tardes são de domingo,
A fonte vai murmurando
Ás moças, que vão surgindo.
Rapazes chegam, sorrindo;
Namoros vão despontando.

É certo que tem a fonte
Valor imenso p'ra nós;
Além da água do monte
Transporta do horizonte
Desejos de estarmos sós.



Vitor Cintra

"Alegorias"