domingo, fevereiro 20, 2011

CARÊNCIAS

(imagem recolhida na internet)
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Náufrago doutras vivências,
Órfão do tempo que passa,
Vejo nas minhas carências
Marcas de antiga desgraça.
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Trouxe, dos tempos do nada,
Restos de vida malsã,
Feitos memória passada
Noutro viver, amanhã.
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Sinto que a vida repete,
Sem eu saber o porquê
Disso - que mais ninguém vê -,
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Cinco, seis vezes, ou sete,
Certas noções de viver,
Para que eu possa aprender.
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Vítor Cintra
Do livro: Entre o Longe e o Distante

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

(imagem recolhida na internet)
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Sentes-te só!
E a dor da solidão, que te acompanha,
Obriga a tua vida a ser tacanha,
Insípida, vulgar e sem destino;
Mas, se por dó,
Aceitas transformar o teu futuro
Em algo que acreditas mais seguro,
Acabas cometendo desatino.
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Ninguém tem mais
Do que somente a alma e o talento,
Que o façam abraçar cada momento
Como o melhor, que a vida lhe há-de dar.
Quaisquer sinais,
Tomados por prenúncio de fortuna,
Serão tal qual areia numa duna,
Que voa, assim que o vento lhe soprar.
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Vítor Cintra
Do livro: PEDAÇOS DO MEU SENTIR

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

TRAQUINAGENS

(imagem recolhida na internet)
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Nasceram nos teus olhos tantos sonhos,
No tempo em que a infância, descuidada,
Vivia cada um pequeno nada
Em rostos desgrenhados, mas risonhos.
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O mundo confinado à outra margem
Do rio que, correndo docemente,
Servia de recreio frequente,
Um muitas incursões da miudagem.
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Não vinham dos adultos mais perigos
Do que esses que eram fruto dos castigos
Punindo, sem rigor, as «traquinagens»;
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Mas muitos desses sonhos, que surgiam
À luz desses teus olhos, que sorriam,
Morreram, engolidos por voragens.
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Vítor Cintra
Do livro: PASSAGENS

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

AGONIA

(imagem recolhida na internet)
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Sinto rasgos de ternura
Ao ouvir coisas da vida,
P'ra sentir, logo em seguida,
Muitos outros de amargura;
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Quantas vezes, por saudade
Do que resta na distância,
Não apenas na infância
Mas também na mocidade.
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Trilhei vida, fiz caminho,
Quase sempre fui sozinho,
Sem arroubos, ou paixão;
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Muitas vezes, derrotado,
Vi-me só, com gente ao lado,
Sem que alguém me desse a mão.
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Vítor Cintra
Do livro: ENTRE O LONGE E O DISTANTE

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

ILUSÕES

(imagem recolhida na internet)
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Ardem desejos enormes
No dia a dia dalgumas
Almas, perdidas, errantes;
São como sonhos disformes
De causas, poucas, nenhumas,
Vindas em vidas distantes.
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No mundo dos impossíveis,
Traçam-se rumos de vidas,
Sem ter em conta razões.
Quando, mais tarde, visíveis
Ficam os nós e subidas,
Murcham quaisquer ilusões.
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Vítor Cintra
Do livro: AFAGOS

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

CAPRICHO

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Surgia do Olimpo, atarefada,
Europa, pondo os olhos no poeta,
Em busca de domínio sobre o Nada,
Perdido sob o céu azul de Creta.
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Distante, noutro mundo, andava Zeus.
Não vendo a intenção libidinosa,
Julgava ser senhor, porque era deus,
Das ânsias dessa deusa caprichosa.
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E a musa, que o poeta abandonara,
Ao provocar no homem sofrimento,
Cedeu à deusa o seu melhor momento.
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Na força do capricho, cara a cara,
Usando seduções tais e tamanhas,
Levou-o às orgias mais estranhas.
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Vítor Cintra
Do livro: Entre o Longe e o Distante

terça-feira, fevereiro 01, 2011

DEDICAÇÃO

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Pediste que te abrisse o coração,
Até que desvendasse alguns segredos,
Mas ao contar-te a vida e seus enredos,
Deixei-me dominar p'la comoção.
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Falei-te de vivências do passado,
De mágoas, alegrias, dissabores,
Falei-te até de causas e valores,
E vi-me a revivê-las a teu lado.
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E foi ao mergulhar em outras eras,
Que fiz extravasar os sentimentos,
Angústia e despertar de sentimentos;
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Comigo estavas tu, como quiseras,
Tentando descobrir esse meu mundo,
Num gesto, sem igual, de amor profundo.
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Vítor Cintra
Do livro: PEDAÇOS DO MEU SENTIR