sábado, janeiro 31, 2009

TROCADO




Aqui, na densa mata de bambu,
Tentando recobrar o meu alento,
Ouvindo fui - silêncio bem atento -
O som da voz do sonho, que eras tu.

Palavras de carinho, ou de conforto,
Nascidas do meu subconsciente,
Soando, repetidas, no presente,
Saídas dum passado mais que morto.

Lançado, p'lo destino, numa guerra
Que, jovem, me afastou da minha terra,
Lembrando as muitas juras, que te ouvi,
.
Não deixo de sentir que fui trocado
- Brinquedo dum desejo inconfessado -
Por outro, que ficou perto de ti.


VITOR CINTRA
do Livro " Murmúrios "

sábado, janeiro 24, 2009

MIRAGENS



Nascem, quais folhas ao vento,
Asas sem corpo, planando,
Águas sem rio, sobrando,
Mentes sem vida, vibrando,
Rostos sem dor, em tormento.

Crescem, já mudas de alento,
Sem ter em conta a idade
Perdem-se da mocidade,
Olhos no mar, com saudade,
Rastos de azul no cinzento.


VITOR CINTRA
do Livro " Murmúrios "

sábado, janeiro 17, 2009

MOSTROU-TE



Mostrou-te a vida um sorriso
Quando soubeste entender
Que vale a pena viver
Com pouco, além do preciso.
.
Mostrou-te a vida a beleza
Das coisas simples do mundo,
Cujo sentido é profundo
Dentro da mãe natureza.

Mostrou-te a vida a ternura
Que sempre se faz sentir
Olhando a rosa a florir;

Mostrou-te toda a candura
Que surge, feita bonança,
Nos olhos duma criança.

VITOR CINTRA
do livro " Murmúrios "


terça-feira, janeiro 13, 2009

IMAGEM



Quem não preserva seus dotes
P'ra usos com fim capaz,
Sujeita-se a pôr garrotes
Em tudo o que mais lhe apraz.

Quem troca a sua virtude
Por mero, fugaz prazer,
Arrisca a sua saúde
E deita tudo a perder.

Há quem pense que não paga
Abusos, libertinagem,
Por gozo de um só momento,

Mas, quando o fogo se apaga,
Queimada resta a imagem,
Sem brilho, ou qualquer alento.


VITOR CINTRA
do livro " RECADOS "


domingo, janeiro 11, 2009

MEU PAI



Deixei irmãos, deixei Mãe,
Deixei a casa. Parti.
Deixando meu Pai também.
E fi-lo por crer em ti.

Apostei nessa aventura
Paz, amor, tranquilidade.
Num assomo de loucura
Apostei a mocidade.

Mais tarde, sem amargura,
No regresso ao meu passado,
Senti, de meu pai, ternura.

Apesar de magoado,
Num gesto de alma, murmura
O perdão do meu pecado.

VITOR CINTRA
do livro " Dispersos "

sábado, janeiro 03, 2009

ABRAÇO



Nos braços do teu abraço,
Sem peias, nem embaraço,
Descanso, no meu cansaço,
As ânsias do coração.

Desfaço tudo o que faço
Do sonho, quando te enlaço,
Ou deito no teu regaço
Tristezas da solidão.

Mas passo, e depois repasso,
O rumo que cada passo
Impondo vai, neste laço.
E cresce a exaltação.


VITOR CINTRA
do livro " Murmúrios "