domingo, março 29, 2009

IMATURIDADE



Tens cabeça de gaiata
Nesse corpo de mulher,
Quem a vida desbarata
Terá muito que sofrer.

Quem andar na vida "airada"
A pensar que está seguro,
No final vê-se sem nada;
Sem presente nem futuro.

P'ra que tal não aconteça
É preciso ter presente
- Assim é com toda a gente -

Que, na vida que começa,
Pode haver muita promessa,
Mas no fim tudo é di'frente.


VITOR CINTRA
do livro " RECADOS "

sexta-feira, março 27, 2009

MARCAS




Revestem-se de mágica teus sonhos,
Na ânsia de apagar a realidade
E pôr bastante longe a fealdade
E a dor, de tantos dias tão tristonhos.

Arredam-se da mente, nessa ânsia,
As mágoas dos abusos, tão sofridos,
Sevícias e queixumes, doloridos,
Que marcam. de tristeza, a tua infância.

Ás mãos, e por vontade, do adulto,
Que tinha obrigação de te cuidar,
Perdeste a inocência de criança,

E as marcas, no teu corpo, do insulto,
Que nem sequer o tempo há-de apagar,
São tudo o que te resta por lembrança.


VITOR CINTRA
do livro " à Distância "

domingo, março 22, 2009

RESTOU-ME



Restou-me, doutros tempos, o sentido
Que faz acreditar que a realidade
Encontra sempre um fundo de verdade,
Naquilo que se diz p'ra ser ouvido

Restou-me, doutras vidas, o cuidado
De nunca crer em tudo o que se diz,
Buscando, desses ditos, a raiz
P'ra não julgar ninguém, de modo errado.

Do tempo, que se escoa agora, apenas
Se deve acreditar que a humanidade
Se não afundará na insanidade;

E crer que as coisas grandes, e as pequenas,
Embora muitas vezes não pareça,
Farão valer que a vida se mereça.


VITOR CINTRA
do livro " À Distância "

quarta-feira, março 11, 2009

MUSA




Nascida, já sem tempo, a minha musa,
Á força d' inspirar outros poetas,
Usando linguagem mais confusa,
Lançou-me algumas rimas incorrectas.

Não fora ter prazer em versejar
Aquilo que me toca, dia a dia,
Jamais arriscaria rabiscar
Os versos, a que chamo poesia.

Mas, notas duma vida já cansada,
Que fez na solidão o seu percurso,
Com muito de tristeza misturada,
.
Não quero ver cair no esquecimento,
Por força de carência de recurso,
O muito que me vai no pensamento.


VITOR CINTRA
do livro " Murmúrios "

quinta-feira, março 05, 2009

* EU VI * poema de Vitor Cintra









Eu vi passar o tempo, sempre á 'spera
Que a sorte bafejasse o meu país
E que, vencido o medo de Quimera,
Fortuna fosse mais do que se diz.


Eu vi passar os anos de revolta,
Por todas as partidas de Destino,
Sabendo de há um tempo, que não volta,
No Fado, que abracei desde menino.


Eu vi as muitas Moiras, que se cruzam
No palco desta terra lusitana,
Querendo proteger a massa humana;


Mas vi, também, as Parcas, que nos usam,
Tentando demonstrar quanto é errado
Um povo destemido ser honrado.



Vitor Cintra

Do livro " Ao Acaso "

terça-feira, março 03, 2009

AMUOS



Com motivo - ou talvez não-
Por capricho, uma mulher
Prende o burro quando quer.

Não está na nossa mão
Encontrar a solução
P'ra que tal não aconteça.
Muito embora não pareça,
Quando a ela lhe convém
Desamarra. E tudo bem!


Como se não fosse nada
Faz-nos crer, dessa maneira,
Que findou a baboseira.
Mas a birra sem sentido
- Artifício pretendido -
Foi apenas adiada.
Porque não foi terminada,
Quando for conveniente
Volta à liça, novamente.
Repetida cada vez
Que tal possa ser motivo
P'ra dar força ao que ela fez.

Um só modo há, de fazer
Para não enlouquecer.
É armar em vingativo!
E, dum modo compulsivo,
Não deixar desamarrar,
Quando a birra lhe passar.

Não ceder a qualquer choro,
A repente, desaforo,
Ou chilique. Ter presença.

Que a um dia de nirvana
Corresponda uma semana
Repleta de indiferença.
Na recusa da sentença
Há que ser mais resoluto.
Se não muda ... dar-lhe o " chuto ".
VITOR CINTRA
do livro " Mumúrios "